A Bahia é um território que se come com todos os sentidos. Do cheiro do azeite de dendê ao som do acarajé estalando no azeite fervente, a culinária baiana é, antes de tudo, uma celebração de identidade. E tem sido, cada vez mais, um dos grandes motores do turismo cultural no estado.
Nos últimos anos, a busca por experiências autênticas e ligadas à cultura alimentar cresceu exponencialmente. Segundo levantamento da Secretaria de Turismo da Bahia (Setur-BA), 6 em cada 10 turistas que visitam o estado apontam a gastronomia como um dos principais atrativos da viagem. E não é à toa: na Bahia, comer é entrar em contato com séculos de história, espiritualidade e afeto.
“A comida baiana é afrocentrada, afetiva e simbólica. A gente não come só para saciar o corpo, mas para se conectar com os orixás, com a ancestralidade e com a memória coletiva”, explica Rita Nascimento, historiadora da alimentação e autora do livro Sabores da Bahia Profunda.
Do tabuleiro à mesa: o dendê como fio condutor

Símbolo da culinária local, o azeite de dendê é mais do que um ingrediente. É herança africana viva. Presente em pratos como moqueca, vatapá, caruru, xinxim e acarajé, o dendê conduz roteiros que cruzam mercados, feiras, restaurantes populares e eventos religiosos, como a Festa de Iemanjá ou o caruru de Cosme e Damião.
Em Salvador, o Centro Histórico virou rota gastronômica para turistas interessados em vivenciar a comida de rua, especialmente nas barracas de acarajé e abará. Uma das mais tradicionais é a de Dinha do Acarajé, no bairro do Rio Vermelho, que atrai tanto locais quanto celebridades.
“O que a gente vende aqui não é só comida. É cultura, é história. Cada acarajé tem um segredo, um tempo e uma fé por trás”, afirma Dinha, que trabalha no ponto há mais de 40 anos.
Cachoeira e o Recôncavo: onde a tradição pulsa

A pouco mais de 100 km de Salvador, o Recôncavo Baiano é um capítulo à parte. Em cidades como Cachoeira, Santo Amaro e São Félix, o turista encontra uma culinária fortemente ligada às tradições religiosas de matriz africana. Os pratos servidos em terreiros ou festas populares ganham roteiros guiados por griôs e mestras de saberes tradicionais.
Projetos como o Sabores de Matriz — uma iniciativa local com apoio do IPHAN e da UFRB — oferecem ao visitante a chance de participar de vivências culinárias que incluem desde o preparo coletivo até o consumo dos alimentos em rituais públicos.
“A comida é um código de identidade. Quando um turista prova um amalá de Xangô ou uma feijoada de Ogum, ele está vivenciando um mundo simbólico que vai além do paladar”, explica Mãe Cleusa de Nanã, yalorixá e cozinheira tradicional de Cachoeira.
Itacaré e Ilhéus: entre o cacau e a cozinha de fusão

No sul da Bahia, o turismo gastronômico ganha novos contornos com o movimento de valorização do cacau e da cozinha de fusão. Em Itacaré, chefs jovens e cozinheiras locais têm reinventado receitas tradicionais com ingredientes da mata atlântica, como palmito pupunha, jaca verde e frutos silvestres.
Em Ilhéus, a chamada Rota do Chocolate conecta fazendas de cacau centenárias com fábricas artesanais e cafeterias que oferecem experiências sensoriais completas: do pé à barra. O cacau ganha status de patrimônio e vira símbolo de turismo sustentável.
Educação do paladar: oficinas, vivências e cursos para turistas
Mais do que comer, o turista quer aprender. E a Bahia tem respondido com uma oferta crescente de oficinas, vivências e tours pedagógicos que misturam culinária e conhecimento. Desde aulas de moqueca no Pelourinho até cursos de história da alimentação afro-baiana em universidades comunitárias, o cardápio é vasto.
Na cidade de Salvador, o Museu da Gastronomia Baiana oferece uma imersão educativa que mistura objetos históricos, exposições e cozinha experimental. “O turista hoje busca pertencimento. Quer saber o porquê de cada sabor. E isso valoriza a nossa cultura de forma muito potente”, afirma a chef e curadora Tereza Paim.
5 experiências gastronômicas imperdíveis na Bahia
- Acarajé da Cira (Itapuã, Salvador) – Tradição e axé em um só prato.
- Moqueca com banana da terra e dendê no Recôncavo.
- Tour do Cacau e Chocolate – Ilhéus, Uruçuca e região.
- Oficina de comidas de terreiro – Salvador ou Cachoeira.
- Feiras livres de São Joaquim (Salvador) e de Santo Amaro – o Brasil profundo em cores e cheiros.